sarcoma de Kaposi (SK) é um câncer raro, que se desenvolve nas paredes dos vasos sanguíneos ou dos vasos linfáticos e afeta a pele e mucosas. Sabe-se que a infecção pelo herpesvírus humano 8 (HHV-8),associada ao comprometimento imunológico, é o principal fator de risco para a sua ocorrência.

Neste artigo, escrito sob os cuidados do Dr. Roberto Pestana, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein, na capital paulista, abordamos esse tipo de sarcoma — considerado um tipo incomum de câncer de pele. Continue a leitura e informe-se a respeito!

Quais são as causas do sarcoma de Kaposi?

Diferente dos demais tipos de sarcomas de partes moles, que se originam em células dos tecidos conjuntivos e podem ter um componente genético, o sarcoma de Kaposi é provocado pelo HHV-8. Por isso, pode atingir a pele, as superfícies mucosa s externas (como na boca) ou dos órgãos internos (como os do sistema digestivo e respiratório).

Quais são os sintomas da doença?

O sarcoma de Kaposi se caracteriza por lesões avermelhadas, arroxeadas ou amarronzadas, que podem inchar e provocar dor. Geralmente, elas aparecem nas pernas, no tronco ou no rosto. Em alguns casos, também pode ocorrer edema (inchaço) local. Quando há comprometimento do estômago ou intestino, pode haver anemia e sangramento intestinal.

Como é a sua incidência?

A ocorrência do sarcoma de Kaposi é maior em pessoas com imunidade baixa, como transplantadas, portadoras de doenças autoimunes e pessoas com infecção pelo HIV. Atualmente, a taxa de incidência é de cerca de 6 milhões de pessoas por ano. De maneira geral, a doença é mais frequente em homens do que em mulheres, sendo raramente vista em crianças.

Quais são os tipos de SK?

De acordo com as formas epidemiológicas, o sarcoma de Kaposi pode ser epidêmico, clássico, endêmico e associado a transplante de órgãos sólidos. Conheça as principais características de cada tipo a seguir.

Epidêmico

O sarcoma de Kaposi epidêmico é o subtipo mais comum e ocorre em indivíduos com infecção pelo HIV. Quando o HIV compromete a imunidade, pessoas que também estavam infectadas com o HHV-8 ficam mais propensas a desenvolver o tumor.

Vale destacar que a neoplasia pode gerar múltiplas lesões, geralmente, na face e no tronco. Além disso, também pode acometer as mucosas, o sistema gastrointestinal e os linfonodos.

Sarcoma de Kaposi: o que é?

Clássico

O sarcoma de Kaposi clássico costuma acometer homens mais velhos (com 60 anos ou mais) e também têm relação com a infecção pelo HHV-8. Sua incidência é mais comum em populações do leste europeu, mediterrâneo e Oriente Médio, bem como em seus descendentes.

Diferente do tipo epidêmico, em geral, o tipo clássico apresenta crescimento lento. Além disso, gera poucas lesões, mais comumente situadas nas pernas.

Endêmico

O sarcoma de Kaposi endêmico tem incidência na África Equatorial, geralmente, em indivíduos com menos de 40 anos. Nessa região, a infecção pelo HHV-8 é bastante comum — o que explica o risco aumentado para desenvolver a doença. Esse tipo de sarcoma costuma progredir rapidamente e pode afetar gânglios linfáticos e outros órgãos.

Associado a transplantes de órgãos sólidos

O sarcoma de Kaposi associado a transplante de órgãos sólidos se desenvolve em alguns pacientes transplantados, devido ao enfraquecimento do sistema imunológico. Como se sabe, o problema ocorre por conta das drogas imunossupressoras, administradas para diminuir a rejeição ao novo órgão. Com a queda na imunidade, a possibilidade de transplantados infectados pelo HHV-8 desenvolvê-lo aumenta consideravelmente.

Como é feito o diagnóstico?

diagnóstico do sarcoma de Kaposi é relativamente simples. Além do exame físico, ele costuma ser obtido por meio da biópsia das lesões, após a análise de um patologista.

Uma vez confirmado o diagnóstico, o especialista continua a investigação. O objetivo é avaliar o estadiamento (estágio em que a doença se encontra) — ou seja, se está localizada ou se houve disseminação para órgãos internos.

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Como saber se a doença se espalhou?

Para descobrir se o sarcoma de Kaposi se disseminou para os órgãos internos, pode-se realizar diversos exames. São eles:

  • radiografia;
  • tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RNM) com contraste;
  • endoscopia, para observar o aparelho digestivo;
  • broncoscopia, para observar as traqueias e as vias respiratórias.

mapeamento corporal total ou dermatoscopia (acompanhamento das lesões existentes ou novas) também é fundamental. Para isso, realiza-se o registro fotográfico periódico da pele do paciente.

Por que é importante determinar o estágio?

Conhecer o estágio da doença é importante para definir a melhor estratégia de tratamento e “prever” o prognóstico. Entretanto, para os subtipos clássico, endêmico e adquirido, não existem sistemas de estadiamento oficiais. Assim, as terapêuticas variam conforme o quadro de cada paciente.

Já no caso do subtipo epidêmico, existe um sistema de estadiamento desenvolvido pelo AIDS Clinical Trials Group (ACTG). Este considera o tamanho do tumor, as condições do sistema imunológico e se houve disseminação ou presença de HIV.

Como é o tratamento?

Cada caso é único e o tratamento adotado varia de acordo com o estágio e localização dos tumores, bem como as condições clínicas de cada paciente. Mas, de maneira geral, quando há apenas uma ou duas manchas, o sarcoma de Kaposi pode ser tratado por meio das chamadas terapias locais. São elas:

  • remoção cirúrgica, realizada por meio de excisão simples ou de curetagem e eletrodissecação;
  • criocirurgia, também chamada de crioterapia ou crioablação, feita com nitrogênio líquido;
  • eletrocoagulação, um tipo de cauterização;
  • terapia fotodinâmica, com uso de uma substância sensível à luz que permanece nas lesões por mais tempo, direcionando o laser;
  • terapia tópica, com a aplicação de um medicamento diretamente sobre a lesão, geralmente, por alguns meses.

Já quando há muitas lesões, indica-se a radioterapia, a quimioterapia ou a imunoterapia. Além disso, existem os tratamentos para os sintomas e efeitos colaterais, que podem ser passageiros ou permanentes. Esses são uma parte muito importante da recuperação e costumam ser conduzidos por equipes multidisciplinares.

Vale destacar que, no caso dos pacientes que fazem uso de drogas imunossupressoras, é preciso suspender ou, ao menos, reduzir suas dosagens. E entre os casos relacionados ao HIV, o tratamento com medicamentos antirretrovirais pode gerar uma melhora considerável, sendo administrados sozinhos ou combinados à quimioterapia.

O que esperar do prognóstico?

Em alguns casos, o tratamento consegue remover ou destruir inteiramente o tumor. Ainda assim, para ajudar a diminuir o risco de retorno, deve-se adotar um estilo de vida saudável. Isso inclui medidas como alimentação saudável, prática de exercícios físicos, cessação do tabagismo, redução da ingestão de bebidas alcoólicas, entre outras.

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No entanto, nem sempre é possível chegar à cura da doença. Alguns pacientes podem necessitar de um tratamento regular com quimioterapia, radioterapia ou outras terapêuticas para manter o tumor controlado.

Além disso, mesmo após o término do tratamento, deve-se manter o chamado seguimento clínico. Esse consiste no acompanhamento com o oncologista responsável, por meio de consultas e exames periódicos, visando detectar eventuais recidivas ou metástases.

Assim, o importante é que, uma vez diagnosticado, o tratamento deve começar o quanto antes. Além disso, é preciso tomar cuidado para restabelecer o sistema imunológico e mantê-lo saudável. A boa notícia é que, por meio de uma abordagem personalizada, as chances de cura ou, pelo menos, controle do sarcoma de Kaposi são altas!

Esperamos que o artigo tenha sido esclarecedor. Se desejar saber mais, agende uma consulta presencialmente ou por telemedicina com o Dr. Roberto Pestana!

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Publicado por: - Oncologista - CRM 170.446 | RQE 97248
O Dr. Roberto Pestana (CRM 170.446 | RQE 97248) é oncologista clínica do centro de oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein. Além disso, ele é médico do ambulatório de sarcomas do Hospital Municipal Vila Santa Catarina.